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Jornalista António Esteves de luto pela morte do pai: “Traído pelo coração que parou de repente”

A dor do jornalista António Esteves que perdeu o pai de forma inesperada. O pivô da estação pública escreveu um longo texto em homenagem ao homem que esteve sempre a seu lado.

O jornalista da RTP está de luto após ter perdido o pai de forma inesperada, tal como escreveu num longo texto de homenagem: “Hoje teve familiares, amigos e vizinhos no funeral dele depois de ter sido traído pelo coração que parou de repente”, escreveu.

Mas o texto é longo e tão bonito: “O meu pai era um homem bom, bonito, muito tímido e reservado, era de uma honestidade e de uma ética à prova de bala, leal, muito profissional e pontual, um trabalhador incansável, orgulhoso, teimoso, humilde e educado. Odiava fotografias, só as tirava por obrigação e depois de muita insistência e tinha só as essenciais com ele. Era um vaidoso não assumido que escondia sempre um pente no bolso, crescia centímetros dentro da farda da instituição que serviu muitos anos e que adorava, era do Sporting mas nunca discutiu futebol”, começou por escrever o pivô.

E continuou: “Fazia todas as tarefas de casa, menos aspirar, era um cozinheiro fantástico e apreciador de boa comida e boa bebida. Odiava conduzir e tinha uma especial irritação pela Ponte 25 de Abril. Odiava praia, mas gostava de ir à Ericeira porque era fresquinho e não havia trânsito.Tinha umas mãos especiais que em tempos fizeram mesas, bancos e cadeiras para os sogros e para os pais e armadilhas para pássaros para os amigos. Sentia-se especial nos tempos em que andava de braço dado com a minha mãe, que sempre foi uma mulher muito bonita e elegante, brincava muito com os filhos quando eram pequenos e tinha um imenso orgulho neles e nos netos, que via pouco porque morava longe, no exílio que escolheu na terra onde nasceu e morreu. A mesma onde seguia todos os dias, religiosamente, os meus noticiários da tarde”.

Contou também: “O meu pai não esteve no meu casamento porque estava muito doente na altura e não queria ser uma distração triste num dia bonito. O meu pai era assim e não esperava ser compreendido. Levantava-se de madrugada para me fazer o pequeno-almoço e o reforço que levava na mochila para o trabalho porque tinha medo de qualquer atraso, nem a minha irritação o demovia mesmo quando tinha acabado de se deitar. Gostava que o filho tivesse sido advogado e zangou-se quando desistiu do curso no terceiro ano de Direito para seguir o sonho de ser jornalista. Habituou-se mas contrariado”.

E entre outras tantas coisas ainda revelou: “Adorava ver filmes cómicos, de índios e cowboys, râguebi e Fórmula 1. Não gostava de muita algazarra e de convívios barulhentos, adorava caçar e tinha um péssimo gosto para combinar roupa, tarefa que pertenceu à minha mãe enquanto ele trabalhou. Nunca saiu de casa para o emprego sem os sapatos impecavelmente engraxados. O meu pai ensinou-me praticamente a primeira classe antes de eu ir para a escola e estudou mais um pouco já em adulto, era inteligente e tinha uma letra linda, tão perfeita e elegante que parecia desenhada em vez de escrita”.

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