Carta aberta a António Costa já é viral: “a bota não bate com a perdigota”
Não está a ser um ano nada fácil para a governação de António Costa. Sucedem-se as trapalhadas, escândalos e demissões numa legislativa bem mais complicada do que a maioria absoluta poderia fazer crer. Agora, mais uma polémica com esta indemnização de meio milhão de euros de Alexandra Reis, da parte da TAP, que volta a fazer baixas. Numa altura em que Pedro Nuno Santos, o ministro das Infraestruturas ainda não se tinha demitido, já o jornalista Luís Osório pedia uma reflexão a António Costa.
O conhecido jornalista dedicou o seu ‘Postal do Dia’ ao primeiro-ministro português, para parar com esta governação caótica. Afinal, os portugueses deram-lhe confiança total e ele precisa de arrumar a casa e reorganizar este Governo. Uma carta aberta a António Costa, que está a merecer o acordo de muitos portugueses, desejosos de verem uma governação menos conturbada.
Fique com o ‘Postal do Dia’ de Luís Osório:
“António Costa, compre um pacote de passas e ponha-as todas na boca
1.
Votei, como a maioria dos portugueses que votaram, no Partido Socialista de António Costa.
Para mim era claro que o secretário-geral do PS merecia ser reconduzido como primeiro-ministro.
Depois da pandemia, depois do equilíbrio das contas e do primeiro superavit da história das nossas Finanças, não vi qualquer razão substantiva para votar noutro partido.
Passados nove meses aconteceu o impensável, um aparente desnorte que surpreende pela constância dos mal-entendidos e do ruído.
E a questão passa por saber se aquilo que tem acontecido será uma má fase ou o resultado de um desgaste fatal, de um cansaço de poder que tornará agónicos os próximos anos de governação.
2.
Foi o aeroporto e o desafio de Pedro Nuno Santos.
Foi a fragilização da ministra da Saúde.
É o ministro dos Negócios Estrangeiros “entalado” por causa da confusão na Defesa.
Foi o episódio rocambolesco do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro que estava e está atolado em dúvidas por esclarecer.
Foi a saída dos dois secretários de António Costa Silva por não concordarem com o ministro. E o episódio de desconfiança deste com o ministro das Finanças.
Só nos faltava mesmo ficar a conhecer a nova e ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, que saiu da TAP com um cheque de meio milhão de euros de indemnização – sendo que a empresa comunicara à CMVM que a senhora saíra por opção própria, o que faz com que a bota não tivesse batido com a perdigota.
A secretária de Estado foi ontem à noite exonerada. António Costa deve ter recebido todas as informações e Fernando Medina fez o que devia, mas fica um sabor amargo na boca.
A começar pelo meio milhão – como é possível um funcionário de uma empresa pública receber 500 mil euros sem que o ministro que tutela a TAP aprove a saída de uma verba dessa ordem de grandeza?
Aliás, as duas hipóteses são graves – o ministro saber ou não saber.
E quanto ao valor da indeminização de Alexandra Reis, uau!
Esteve cinco anos na TAP, uma empresa falida, e saiu com uma pequena fortuna – eu realmente devo estar a fazer alguma coisa errada na vida, só pode.
Meio milhão?!
4.
Caro primeiro-ministro
Caro António Costa
Vamos lá a ver…
… hoje é dia 28 de dezembro, esta semana será a última do ano.
De domingo para segunda-feira o António festejará a chegada do novo ano.
Nisso estaremos juntos, nós os dois e cada um dos que me leem ou ouvem.
Não sei se costuma comprar passas ou se formula desejos nas passagens de ano.
Mas permita-me que lhe ofereça um conselho de amigo: compre um pacote de passas e ponha-as todas na boca.
Não peça qualquer desejo, prometa apenas a si próprio que, no dia 2 de janeiro, começará a pôr a casa em ordem.
Não vá trabalhar no Dia 1, aproveite para ir ao cinema ver o novo de Spielberg ou reveja a I Temporada de “Os Homens do Presidente” – não será tempo perdido.
Respire fundo, ponha num papel A4 ideias pendentes que não tenham ligação com a espuma dos dias, convoque a São Bento as pessoas em quem realmente confia, e informe ministros e secretários de Estado sobre novos procedimentos, novos cadernos de encargos, novos estímulos, novas dinâmicas.
Berre o que tiver de berrar na primeira semana de 2023.
E depois faça-nos acreditar que alguma coisa mudou.
Limpe a cabeça, foque-se e arrume a casa.
A ninguém admiraria que o conseguisse.
Já conseguiu coisas mais difíceis.
Ou então não, ou então isto será assim até ao fim do seu tempo. Seria lamentável, mas não seria a primeira vez que aconteceria na história dos governos em democracia.
Fico na expetativa.
Com a mesma consideração, mas com menos paciência.
Eu e uma parte importante dos portugueses”.
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